
HQ brinca com Thanos, levando o Titã Louco ao extremo
O núcleo cósmico da Marvel é sem dúvida um dos pontos mais complexos de seu universo e, portanto, um dos menos convidativos para os novos leitores. Nos últimos anos a editora se dedicou a produzir tanto histórias que possam expandir sua mitologia quanto aventuras que servem como ponto de partida para uma nova audiência. Para Thanos Vence, a Casa das Ideias recrutou uma equipe de jovens talentos que soube estabelecer um equilíbrio perfeito entre honrar o legado do personagem e abrir as portas para iniciantes com um enredo simples e imersivo.
Enquanto promove mais um de seus rotineiros massacres pela galáxia, Thanos é levado para milhares de anos no futuro por uma versão mais velha de si mesmo. Ao chegar nesse tempo, o Titã Louco descobre que está destinado a erradicar toda a vida no universo, com exceção de um último e poderoso inimigo. Para derrotá-lo, o agora Rei Thanos recorre à sua versão mais jovem em busca de reforço para atingir seu objetivo e finalmente conquistar a Senhora Morte.
Já é fato que a onda de criar histórias sombrias e realistas tenha se espalhado por todos os lados da indústria dos quadrinhos. Entretanto, Thanos Vence foge da conveniência de trazer apenas morte e caos como ingredientes para uma história do vilão. Isso não significa que a violência foi deixada de lado, já que a HQ parte do princípio de que o Titã Louco aniquilou praticamente todo o seu Universo, mas o roteiro é inteligente e consegue enxergá-lo além da perspectiva de genocida galáctico.

Em Thanos Vence, Geoff Shaw repete a parceria com Cates, estabelecida na HQ God Country, e transmite a grandiosidade que o roteiro propõe com um trabalho artístico vistoso, combinando uma agilidade narrativa com páginas duplas catárticas, ampliando o poder de momentos-chave com uma impressionante riqueza nos detalhes.
Ambientada em um futuro possível, por diversas vezes Thanos Vence remete a O que Aconteceria Se… (What If? no original), HQs publicadas pela Casa das Ideias cujo mote consiste em imaginar o Universo Marvel com mudanças pontuais. Esse conceito é aproveitado em diversos momentos, especialmente na criação de novos personagens que só poderiam aparecer em uma linha do tempo alternativa, como o Motoqueiro Fantasma Cósmico. Inicialmente um mero ajudante do Rei Thanos, o personagem rouba a cena por diversas vezes graças à sua bizarrice, fazendo sucesso a ponto de ganhar sua própria revista.

Thanos Vence se tornou o ponto de partida da jornada de Donny Cates através de quadrinhos cósmicos na Marvel. A partir dessa HQ, o roteirista escreveu o derivado Motoqueiro Fantasma Cósmico, assumiu o título dos Guardiões da Galáxia e por fim completará o ciclo na minissérie Silver Surfer: Black. Levando em consideração a paixão com que Cates escreve os personagens e sua coragem para introduzir ideias genuinamente novas, o futuro desse universo nunca pareceu tão promissor.